segunda-feira, 28 de maio de 2007

O SILÊNCIO QUE MATA

Hoje recebi este mail. Li-o e reli-o e achei que o queria partilhar com o mundo. Aqui vai:


Na primeira noite, eles se aproximam
e colhem uma flor do nosso jardim.
E não dizemos nada

Na segunda noite, já não se escondem,
pisam as flores, matam o nosso cão.
E não dizemos nada.

Até que um dia, o mais frágil deles, entra
sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua,
e, conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.

E porque não dissemos nada,
já não podemos dizer nada.

- Maiakavski -

Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável.

Depois agarraram os desempregados
Mas como tenho emprego
Também não me importei

Agora estão me levando
Mas já é tarde,
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo
- Bertold Brencht (1898-1956) -

Incrível é que, após mais de cem anos, ainda nos encontramos tão desamparados, inertes, e submetidos aos caprichos da ruína moral dos poderes dos Governantes, que vampirizam o erário, aniquilam as instituições e deixam aos cidadãos os ossos ruídos e o direito ao silêncio: porque a palavra, há muito se tornou inútil...

- Até quando? ....

domingo, 20 de maio de 2007

TRÊS DIAS DE CEGUEIRA

«Muitas vezes, penso que seria uma benção se cada ser humano pudesse ser completamente cego e surdo durante alguns dias no início da sua vida adulta.» Esta é uma célebre citação retirada do famoso ensaio de Helen Keller «Três Dias Para Ver».

Na sua qualidade de invisual, Helen Keller achava incompreensível que amigos e familiares não apreciassem verdadeiramente as paisagens que os rodeavam. Certa vez, pediu a uma amiga que acabara de regressar de um passeio pelos bosques que lhe contasse o que vira. «nada de especial», replicou a amiga.

Esta resposta deixou Helen tão desapontada como atónita: como era possível caminhar durante uma hora pelos bosques e não ver nada digno de nota?

Recorrendo apenas ao tacto, Helen era capaz de sentir a extraordinária beleza das coisas: a delicada simetria de uma folha entre os seus dedos, o balanço suave de um galho ao sabor da brisa, o calor do sol nos misteriosos contornos da casca das árvores.

O seu coração devia agitar-se no desejo de ver todas essas coisas que apenas podia tentar imaginar; como saber verdadeiramente o que é uma árvore sem nunca ter visto árvore alguma?

«Se o mero tacto basta para me dar tanto prazer», especulava ela, «quanta beleza não será revelada pela vista?»

Por isso, ponderou o que mais gostaria de ver se lhe fosse dado o dom de ver durante três dias. No primeiro dia, convidaria os seus amigos mais queridos e olhá-los-ia prolongadamente no rosto, gravando a beleza deles na memória. No segundo dia, visitaria museus para adquirir um relance da história do Mundo ou iria a galerias, cinemas e teatros para mergulhar na alma da Humanidade através da arte. No terceiro dia, deambularia pela cidade para apreciar as vistas e a beleza da vida quotidiana.

A beleza irresistível da Natureza e da civilização humana era o que Helen Keller aspirava ver. Mas se tivesse tido, efectivamente, a oportunidade de ver tudo, talvez concordasse que no Mundo há certas coisas que mais vale não serem vistas. Podia muito bem ter sofrido uma desilusão ao constatar como certas coisas se tornam tão mais chocantes e violentas quando acompanhadas pela visão e pelo som.

Pensar em corpos mutilados nos campos de batalha, na destruição infligida por terroristas fanáticos, no rosto de uma criança cujos pais foram mortos por soldados implacáveis. A cegueira pode ser uma bênção num mundo inexorável e perverso.

Se eu fosse «abençoada» com três dias de cegueira e surdez, como Keller sugere na sua dissertação, aprenderia certamente a apreciar melhor a imagem e o som. A escuridão e o silêncio suscitariam em mim uma nova alegria por ver e ouvir e permitir-me-iam perceber quanto tenho substimado vista e ouvido na minha vida de todos os dias.

Mas antes que os três dias terminassem, a escuridão e o silêncio proporcionar-me-iam também algo mais.

No primeiro dia, teria o prazer de não ouvir nem ver as chicanas políticas ou os resultados do despotismo; seria poupada às manifestações de falta de diplomacia e à incrível miopia de algumas visões do Mundo.

No segundo dia, ficaria aliviada por não ter de ver as notícias deprimentes de assassínios, raptos e suícidios, batalhas e guerras, confrontos e manifestações que inundam a televisão. Seria um alívio não ter de ver os rostos desesperados dos reféns à espera de ser executados a sangue frio por terroristas encapuzados.

No terceiro dia, à medida que se aproximasse a última hora, teria de me preparar para voltar a enfrentar a dureza da realidade quotidiana.

Se a notável Helen Keller ainda estivesse entre nós, gostaria de lhe dizer que, para mim, «três dias de cegueira e surdez» não seriam assim tão maus. Pelo menos do prisma de alguém que é confrontado diariamente com um mundo muitas vezes sombrio e deprimente.

sábado, 12 de maio de 2007

DESAFIOS E DESAFIADOS

Fui desafiada, durante a semana, para responder a algumas questões.
Com algum atraso, aqui vai o resultado do meu enorme esforço para não vos deixar ficar mal.

O AGRIDOCE pediu-me para responder a um sem número de questões:

Se fosse uma hora do dia, seria... qualquer uma que não seja a meia noite (queria ser cinderela para sempre que isto de ser gata borralheira cansa muito!)
Se fosse um astro, seria... a ursa maior (a menor é muito pequena para mim!)
Se fosse uma direcção, seria... o Norte (nunca devemos perde-lo!)
Se fosse um móvel, seria... uma cadeira de baloiço(conhecem coisa melhor?)
Se fosse um líquido, seria... Champanhe(é agradável a maneira como nos deixa a cabeça a andar à roda
Se fosse um pecado, seria... Tudo o que é bom é pecado, nem sei o que escolher! Pode ser mais que um?
Se fosse uma pedra, seria... um cristal (que mais poderia ser?)
Se fosse uma árvore, seria... uma amendoeira (tem belas flores e frutos deliciosos)
Se fosse uma fruta, seria... uma amora silvestre (é doce qb mas também tem alguns espinhos)
Se fosse um clima, seria... tropical (quente e tempestuoso)
Se fosse um instrumento musical, seria... um piano (um instrumento que, não sendo muito belo, se bem tocado emite uns sons maravilhosos)
Se fosse um elemento, seria... o ar (ninguém pode viver sem ele)
Se fosse uma cor, seria... o azul (o mar e o céu também são)
Se fosse um animal, seria... um macaco (tem sempre um ar tão feliz e despreocupado)
Se fosse um som, seria... o do mar (é a música mais bela que o universo criou)
Se fosse uma música, seria... Against all odds do Phil Collins (inesquecível)
Se fosse estilo musical, seria... Salsa
Se fosse sentimento, seria... Amor
Se fosse um livro, seria... As palavras que nunca te direi (que bela história de amor)
Se fosse uma comida, seria... Galinha com grão (descobri há pouco tempo como é bom!)
Se fosse um lugar, seria... uma ilha (só entrava quem merecesse!)
Se fosse um gosto, seria... chocolate
Se fosse um cheiro, seria... alfazema
Se fosse uma palavra, seria... amor
Se fosse um verbo, seria... amar
Se fosse um objecto, seria... um comando de televisão (parece que é o objecto mais apreciado pelos homens)
Se fosse uma parte do corpo, seria... as mãos (podem fazer tanto por nós, até falarem!)
Se fosse expressão facial, seria... o sorriso
Se fosse uma personagem dos desenhos animados, seria... a super mulher
Se fosse filme, seria... Música no coração
Se fosse forma, seria... tudo menos esfera (mas é o que estou quase a ser!)
Se fosse número, seria... 17
Se fosse estação, seria... Primavera (quando tudo renasce)
Se fosse frase, seria... A cultura da ignorância é o que de mais pobre podemos alojar em nós!

Este já está, só falta nomear as próximas vitimas:

- Alexandre
- João Jr
- Nanny
- Diabólica
- Lua de Papel (para ver se acordas)



O outro desafio foi-me proposto, diabolicamente, pela DIABÓLICA e aqui ficam as minhas respostas:

7 coisas que tenho de fazer antes de morrer:

1 -Viver
2 -Transformar-me numa milionária excêntrica
3 -Comprar um chalé nos Alpes
4 -Aprender a esquiar
5 -Vender a minha celulite a alguém
6 -Gravar um disco (isto é castigo para os outros)
7 -Acabar os meus dias ao lado do meu amor

7 coisas que eu mais digo:


1 -Estás a ver
2 -Cruzes
3 -Fogo
4 -Ele há vidas piores só que não prestam
5 -Vai-te embora oh melga
6 -Bem!!
7 -Mas que chato

7 coisas que eu faço bem:

1 -Passar a ferro
2 -Ser boa amiga
3 -Trabalhar
4 -Ponto cruz
5 -Bacalhau à Gomes Sá
6 -Dormir
7 -Embrulhos

7 coisas que eu não faço:

1 -Maltratar os outros
2 -Ser mentirosa
3 -Comer favas
4 -Comer iscas
5 -Andar na montanha russa
6 -Correr
7 -Agredir alguém

7 coisas que me encantam:

1 -O mar
2 -O amor
3 -Viajar
4 -Estar rodeada de amigos
5 -Conviver com a família
6 -Uma boa gargalhada
7 -Comer um belo de um pastel de nata

7 coisas que eu odeio:

1 -Maldade
2 -Preguiça
3 -Maledicência
4 -Hipocrisia
5 -Cuspir para o chão
6 -Mau cheiro
7 -Política

E agora os 7 nomeados para se submeterem a este teste:

1 - Agridoce
2 -Sam
3 -Ci
4 -Entre Linhas
5 -Kalinka
6 -Mara
7 -Thunder

Ufa... cheguei ao fim!! Obrigada a todos e boa sorte para os desafiados.

domingo, 6 de maio de 2007

A ARTE DE VIVER


Quando estamos especialmente arrogantes, ou preocupados com questões superficiais, ou gastando imenso tempo com obsessões estéticas, mesquinhas, materiais, fúteis, ou pisando e passando por cima dos outros, ou imensamente soberbos e desprezando os mais fracos, ou ainda com uma ambição egoísta sem limites e sem escrúpulos...


Devemos lembrar-nos de que não somos eternos: somos mortais como todos os outros. Temos uma vida a aproveitar e ela pode oferecer-nos tantas coisas boas e bonitas que é lamentável perdermos tempo...

Foto tirada na praia da Lota

sábado, 14 de abril de 2007

A FELICIDADE, IMPOSSIVEL?


Uma amiga, com voz calma, dizia-me: “ Óscar Wilde, um optimista nato, referia que existem duas tragédias na existência: não satisfazer todos os desejos; satisfazer todos os desejos.

Alguns chegam a determinada fase da vida e apercebem-se que não conseguiram obter aquilo que pensaram que era necessário para ser feliz.

Outros obtiveram tudo o que projectaram ter para serem felizes e não o são.

Para ambos o mundo parece vazio e entediante, em crise existencial.

O que é que lhes poderá trazer a felicidade?

Muitas pessoas sentem que vivem numa sociedade de concorrência feroz e de sacralização das riquezas materiais e de profunda angústia, sem encontrarem um outro ideal que não esse egoísmo exacerbado.

Uns viram–se para a religião, outros para seitas, outros para drogas de toda a espécie, outras para um estilo de vida em sucessivas fugas para a frente vertiginosas, outros a estragar a vida de quem está por perto.

Há quem ache que a meditação filosófica é um recurso de muitos para suportar a vida e que a felicidade é uma coisa pessoal.

Cada um tem a sua felicidade, diferente da felicidade dos outros.

Uma felicidade igual para todos é um absurdo.”

A conversa continuou longa.

Como viver para ser feliz?

terça-feira, 3 de abril de 2007

A MAGIA DA MÚSICA

Musicoterapia: chamam -lhe alguns quando apontam as propriedades curativas da música.

Talvez tenham alguma razão.
A música é a única forma de arte sem intermediários: vai directa a cada um de nós, as notas voam sem suporte.
A música é pura emoção: Rimos, choramos, magoamo-nos, divertimo-nos, pensamos, relaxamos, repudiamos, amamos ou simplesmente escutamos.
Mas nunca somos os mesmos ouvindo musica ou com ela dentro de nós.
Até no silêncio há música.
E para todas as ocasiões.
Lembro-me de um célebre músico do século XIX ter dito que se pudesse ter composto no início dos tempos poderia ter forjado o temperamento dos povos e dos homens.
Aí está muita música popular para o comprovar.
E os Hinos?
A espiritualidade dos cantos gregorianos e a obra de Bach não parecem conduzir aos deuses?
Beethoven e algumas árias de ópera não são boas para uma catarse do dramático?
Wagner não é bom para batalhas?
E o Jazz e os blues para acompanhar um bom Martini?
E as nossas recordações nostálgicas do rock, do disco sound, dos seus sucedâneos?
E a chanson française, os festivais italianos, a musica do diversos mundos.
Eu acho que ninguém passa sem música, seja ela qual for.
Gostam de música?
Têm a mesma opinião?

sábado, 24 de março de 2007

REFLICTAMOS


Já que tanta gente dá mais importância a uma vida privada feliz, porque é que as pessoas acabam muitas vezes por aplicar mais energia na sua via profissional?

Se acha que a sua vida pessoal é mais importante para si, isso é evidente nas suas prioridades?

Não quer simplesmente admitir que o trabalho é mais importante?

Usa o trabalho como substituto?

Tem a esperança de que o sucesso profissional leve, de alguma forma, à felicidade pessoal?

sábado, 17 de março de 2007

LEITURA


Gostamos de ler.

Diversas coisas, conforme o gosto ou o momento.
Uns gostam de ler da primeira à última página, outros da última para a primeira, alguns ao acaso das páginas, outros sem as terminar porque não gostam.

De pé, sentados, na casa de banho, deitados, o que importa é ler, divertir, pensar.

Lendo podemos imaginar tudo como se não fossemos nada, porque, como diria já não sem quem, se fossemos alguma coisa não poderíamos imaginar.

Parece que nesta sociedade electrónica há quem diga que não há espaço para o livro.

Eu acho que não: senti-lo fisicamente, cheirá- lo, admirar a beleza do seu grafismo, poder com uma caneta ou lápis sublinhar ou riscar, tê-lo como companheiro é uma sensação insubstituível.

É um prazer inenarrável enroscar-mo-nos num cantinho e em silêncio absorvermo-nos totalmente.


Há um livro que recomendo: a História da Leitura, de Alberto Manguel: ficamos a saber como se foi lendo, e com que suportes ao longo do tempo.

Gosto de ficção que seja bem escrita e conte uma boa estória.

E gosto de livros que me ensinem ou de viagens que me transportem para lugares mágicos.

Alguém não gosta de ler?

Qual é a vossa opinião sobre livros e leitura?

domingo, 11 de março de 2007

PASSEIO MONOLOGADO

Que mágoa é essa!

Vem, dá-me a mão, senta-te aqui comigo neste banco no alto de Santa Catarina, junto ao Adamastor, avatar dos nossos pesadelos.

Olha, com a tua alma panorâmica, o Tejo em toda a sua largura.

Se viesses lá de longe, do mar, vias Lisboa erguer-se numa bela visão de sonho, sob o azul inédito e vivo do céu, que o sol anima e fecha no esquecimento a existência misteriosa dos astros.

São sete colinas, postos de observação, massas de casas irregulares e coloridas.

Materna, campo na cidade, gentes e bichos, Lisboa tem cheiro a maresia, eterna criança do destino.

Sorri sem olhos tristes, diz devagar coisa nenhuma, não deixes os anos morrer dentro de ti, os destinos vivem-se como outra vida.

Não penses nos dias, nas horas e minutos destes anos de vida que passaram, nem nas máscaras que são anónimas, nem nas fomes insatisfeitas.

Pensa em tudo o que deste, diz obrigada.

Não peças palavras, nem baladas, nem experiências.

Deixa o desespero ou o medo, renasce a toda a hora, deixa a vida exprimir-se sem disfarces.

Vê o mar e ouve o vento que murmuram a poesia das coisas a insinuarem-se no coração.

Olha o Tejo e o espaço de partida do mar.

Lisboa é o mundo para onde se vai e volta.

Anda daí sonhar e circum-navegar.

Mas voltando sempre por aquele mar e este rio, para esta Lisboa sempre nossa.

Sabendo que a vida é breve, o tempo foge, que é preciso escolher o que não morre, o que podemos saborear como se estivéssemos na eternidade.


Vá, não chores.

Ouve o poeta:

“Alma minha, brandinha, vagabunda,
Do corpo acompanhante e moradora
A que paragens vais subir agora,
Assim tão lívida, e rígida, e tão nua?
Deixarás de gozar o que hoje gozas.”

Vem, dá-me a mão, vamos embora e sorri…

domingo, 4 de março de 2007

PASSEIOS POR LISBOA E PENSAMENTOS

Já o disse várias vezes: gosto de passear, ter emoções estéticas que a beleza natural oferece, deambular pelas ruas, vadiar pelas praças, extasiar-me com as criações humanas, as obras de arte, olhar o rosto das pessoas, a forma como andam, as cores que vestem, as estórias que contam.

Há dias andei pela Lisboa das Índias.
Mas há tantas Lisboas! A Romana, a da rota das sedas, a das vilas operárias, a Setecentista, a moura, a boémia, a da sétima colina, a de Cesário Verde!

A colina do castelo, debruçada sobre o rio, foi a primeira zona de Lisboa a ser ocupada.


Agrega em si o tempo do poder, o dinamismo da guerra, sitiados e sitiadores, o centro religioso, o local de convivência de povos e crenças, de mercadores, burguesia e nobres, unidos no ensejo de fazer a cidade.

Nisso penso quando do Castelo olho a magnífica paisagem do rio Tejo ou olho para Alfama: o velho bairro de pescadores, que conserva uma grande parte do seu antigo aspecto: a arquitectura, o tipo de ruas, os arcos e as escadas, as varandas de madeira, uma vida cheia de rumor, ampliada nos santos populares.

A vista dá-nos serenidade e faz nos pensar como ao fim de tantos séculos ainda não conseguimos aprofundar a compreensão da condição humana, a conquista de uma maior libertação das prisões interiores e domínio do destino individual.

Como ainda não conseguimos ser seres livres ao encontro de outros seres livres e por eles reconhecidos como tal.

Atingir o que Espinosa disse: um homem conhece se pela sua acção, compreende se pela reflexão, constrói se pela meditação.

E é inconformado porque livre, prefere questionar a responder definitivamente, interpela o tempo em recomposição em que vive e as eternas questões da justiça, da paz, da liberdade, do desenvolvimento, da diversidade cultural, da solidariedade, da abolição de todas as formas de escravatura, da liberdade de pesquisa científica, do direito de viver e morrer com dignidade.

Buda, dito o iluminado, dizia: entre aquele que vence em combate mil vezes mil inimigos e aquele que se vence a si mesmo, é o segundo o maior dos vencedores.

Nestas colinas viveram os mais variados povos com as mais variadas religiões.

E recordo, neste mundo de intolerância, que para a ordem do mundo, mais vale a justiça sem religião do que a tirania do devoto.

Sob o fogo budista entendo o controlo, a paz, a compaixão.
Sob o fogo do judaísmo, entendo a esperança, a tensão para atingir o inatingível.
Sob o fogo do cristianismo entendo a liberdade, a fragilidade, o serviço do próximo.
Sob o fogo do Islão entendo a grandeza, o sentido da transcendência.
Sob o fogo da laicidade, o elogio da autonomia.
Sob o fogo do ateísmo, a tolerância.

E para continuar a viver, como dizia Teillard Chardin, panteísta, é preciso mudar.

Mas não é preciso deixar de gostar daquilo que do Castelo vejo, e de Lisboa, por onde vou continuar a andar. Talvez, como Pessoa, sempre Pessoa, acordar da cidade de Lisboa, mais tarde do que as outras.

domingo, 25 de fevereiro de 2007

UM PASSEIO PERTO DE NÓS: LISBOA DAS INDIAS.

“ Se o inverno chega, a primavera não pode estar distante”, dizia um poeta.
É com este pensamento que, da centenária Fábrica dos pastéis de Belém, olho o prédio revestido de azulejos da Fábrica de Massarelos, com uma grega em azul, amarelo e branco e escamas nas empenas a norte, estas bem coloridas, onde a ardósia deu lugar à cerâmica vidrada.

O pastel de nata de Belém é uma receita conventual feita à base de nata de leite, açucar e gemas de ovo. O segredo é guardado a sete chaves. Na casa do segredo prepara-se de véspera o creme, e aí fica a repousar até ao dia seguinte, com a porta fechada e a chave no bolso. Há muito que este segredo é partilhado apenas por quatro pessoas que nunca viajam juntas.

A Fábrica ocupa o terreno do antigo Palácio Guarda Mor dos Jerónimos. A fiada de edifícios que se segue foi construída no chão salgado dos antigos jardins do Palácio dos Duques de Aveiro. Aí esgue-se a coluna dos Távoras, evocando o episódio da incriminação desta família no atentado contra D. José e a luta entre o Marquês de Pombal e a nobreza tradicional. O chão foi então salgado para que aí mais nada crescesse.

O Mosteiro dos Gerónimos domina a praça..

Vou lá: uma visita aos Jerónimos tem necessáriamente de ser demorada, para ser uma verdadeira visita. Todas as belezas ali existentes devem ser cuidosamente examinadas: o trabalhado de todos os pormenores, as imagens, os túmulos, as colunas, as abóbodas, especialmente a do transepto, que nenhuma coluna sustenta, as pinturas, o coro, o claustro, um dos mais belos do mundo, a sala do capitulo, a capela de Cristo.

Ali perto temos a antiga Real Barraca, hoje Palácio da Ajuda. E o de Belém.Valem a visita.
Como à Igreja da Memória, ao Jardim Botânico, ao Museu dos Coches, atravessar a Praça do Império ( lá está Afonso de Albuquerque) e ir à Torre de Belém, sem dúvida um dos mais belos monumentos de Lisboa, arquitectura oriental erigida na praia do Restelo, famosa por ser o ponto de onde os navios partiam mar fora para as grandes descobertas.
Mas passeiam por Lisboa, pavorasamente perdidos, estrangeiros aqui como em toda a parte.

“ Outra vez te revejo
Lisboa e Tejo e tudo-,
transeunte inutil de ti e de mim
estrangeiro aqui como em toda a parte
casual na vida como na alma
fantasma a errar em salas de recordações
o ruído dos ratos e das tábuas que rangem
no castelo maldito de ter que viver”

(Fernando Pessoa)

Viver? Com que sentido? Com que respostas às eternas perguntas?
Passear e esquecer: Gosto de ver quem amo, de olhá-lo de frente, em vez de comtemplá-lo de viés ou de costas... Uma estátua é de frente que deve estar patente. E as traseiras do templo não são para os devotos.

Passeiem!

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

JAMAICA - TERRA DE SOL E DE MAR

O país conquistou um lugar privilegiado nas rotas turísticas sobretudo graças ao clima, às belíssimas águas azul-turquesa e às estâncias.
A grande maioria da oferta turística concentra-se na costa norte da ilha, entre Ocho Rios e Negril. É nessa parte do país que se encontra um grande número de praias de areia fina e enseadas de águas cristalinas. A região é muito celebrada pelo cenário tropical omnipresente no interior, mas o principal santuário das peregrinações turísticas é a Blue Lagoon, uma pronunciada reentrância marinha que foi palco da rodagem do filme com o mesmo nome. Nas imediações fica Dragon Bay, uma baía protegida, com a sua extensa praia de areia e recifes de coral que atraem muitos mergulhadores.

Quase nada há para ver em Ocho Rios, à excepção de uma série de graciosas enseadas de uma azul luminoso delimitadas por promontórios verdes. Voa-se para os arredores e em poucos minutos se está com um pé nas águas das Caraíbas e outro nas cascatas de Dunn's River Falls. As águas tombam em sucessivos socalcos, formando uma série de piscinas naturais, entre a sombra de uma densa floresta, até desmaiarem na praia.

Em St. Ann's Bay, uma dúzia de quilómetros para poente, terá Colombo avistado pela primeira vez, em 1494, o território Jamaicano. Apesar da má memória que se guarda dos anos que se seguiram à chegada da expedição espanhola - em menos de meio século os índios e a cultura local foram exterminados - o navegador teve direito a uma estátua! Uns quilómetros para o interior, na povoação de Nine Mile, uma antiga casa de Bob Marley acolhe o mausoléu do músico, que é, simultaneamente, um centro de peregrinação rasta.

DE MONTEGO BAY A NEGRIL


A caminho de Montego Bay, para trás vão ficando Runaway Bay e Discovery Bay, lugares em que o turismo massificado está em franca expansão. Mais adiante, pausa obrigatória em Fallmouth, antigo porto de saída de açúcar e local de comércio de escravos. É uma cidade cheia de carácter, com muitos exemplos da arquitectura jamaicana, praticamente à margem dos circuitos turísticos.

Montego Bay, “el golfo de buen tiempo”, como chamou Colombo ao local, é a segunda maior cidade da Jamaica, renascida das cinzas da decadência económica que sobreveio após o ciclo do açúcar e da destruição por uma série de furacões. Com um litoral de praias agradáveis e recifes de coral e muita animação urbana - há, até, um Sunset Boulevard cheio de lojas e bares - não se pode estranhar a grande frequência turística, tanto norte-americana como europeia. O primeiro parque nacional da Jamaica mora ao lado: o Montego Bay Marine Park, mais de doze quilómetros quadrados de recifes de coral e mangais.

E chegamos, finalmente, a Negril, a quinta-essência das estâncias turísticas das Caraíbas, com uma extensa faixa de areia dourada, águas transparentes, tranquilas e cálidas escondendo recifes de coral e um perfeito enquadramento tropical de palmeiras ao longo da orla. Longe vão os tempos em que um punhado de hippies descobriu o que era então um remoto recanto da ilha. O paraíso isolado de então, uma aldeola de algumas dezenas de pescadores, transformou-se em trinta anos na maior e mais emblemática estância turística da Jamaica, cuja atmosfera descontraída e permissiva conterá ainda um pouco, certamente, da herança da “colonização” hippy.

BLUE MOUNTAIN, DO CÉU NASCEU UM CAFÉ

O melhor café do mundo. Tal como Camões dizia, referindo-se a outros mais essenciais domínios, melhor será sempre experimentá-lo que julgá-lo.


De aroma forte e intenso, com um sabor que se demora sobre as papilas gustativas, o Blue Mountain é um café que (quase) veio do céu. Apenas seis mil hectares produzem o Blue Mountain, o que permite compreender o elevado preço que atinge no mercado - é, justamente, o café mais caro do mundo.


A abolição da escravatura constituiu um rude golpe para a actividade, tal como o fim do comércio preferencial de Inglaterra com a colónia. Sucessivos furacões ajudaram igualmente à ruína das plantações. Só depois da II Grande Guerra, as políticas governamentais jamaicanas conseguiram revitalizar o cultivo, definindo ao mesmo tempo critérios conducentes à excelência que hoje caracteriza os cafés do país.


As características do cultivo, singulares, tanto contribuem para a qualidade como para o preço elevado. O café é cultivado em socalcos, em pequenas plantações (de plantio misto, por vezes), em áreas onde a mecanização é praticamente impossível.



UM PARAÍSO DE BIODIVERSIDADE


Se o litoral, onde abundam formações de recifes de coral e inúmeras praias de areia fina e dourada, constitui o centro das atenções da grande maioria dos turistas, as áreas protegidas do interior e os vários parques naturais merecem só por si uma viagem inteira.


Na parte leste da ilha, entre Kingston e Port Antonio, está o Blue and John Crow Mountains National Park, um espaço natural bem emblemático da riqueza e diversidade da ilha em termos de flora e fauna. Localizado a mais de mil metros de altitude, conserva mais de 100 espécies de borboletas, 3000 de plantas e 250 de aves, entre as quais cerca de 20 são exclusivas da ilha. É possível, também, visitar algumas plantações de café.


Subir o Rio Grande ou o Black River são também opções a considerar. O primeiro, um dos mais caudalosos da ilha, é alimentado pelas chuvas das Blue Mountains e atravessa zonas de floresta com árvores seculares, com um curso marcado por rápidos em algumas passagens. O Black River, localizado no sudoeste do país, no condado de St. Elizabeth, terra de origem do rum Appleton, é o maior rio da Jamaica. As zonas pantanosas do Parque Nacional Great Morass constituem habitats de grande número de crocodilos. É uma zona muito propícia, também, para a observação de aves (mais 100 espécies diferentes), organizada regularmente através de boat safaris.


As quedas de água são sem conta nesta ilha onde não faltam paragens que emulam cenários edénicos. As Dunn's River Falls são as mais conhecidas, mas vale a pena também passar pelas de Sommerset, em Hope Bay, perto de Port Antonio, e explorar as do vale do Río Grande, algumas localizadas em sítios quase impenetráveis. E sobretudo, não perder as Ys Falls, no rio com o mesmo nome, no sudoeste da ilha, uma série de dez cascatas de dimensão variável, imersas num cenário de floresta cerrada e húmida. As piscinas naturais são simplesmente irresistíveis.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

AMIGOS COLORIDOS

Aqui estou eu para responder ao desafio da Nanny (Sei Lá!) sobre o papel dos amigos coloridos.

Existem momentos na nossa vida em que não desejamos nada mais para além de um ombro amigo. Aquele com quem nos sentimos à vontade para contar os maiores disparates, ou apenas lamentar os problemas do dia a dia. Um amigo cúmplice dos nossos erros, entusiasta dos nossos feitos ou simplesmente que ri connosco Há quem diga que os amigos são somente amigos e os amores devem estar à parte. Porém, nada impede que entre tantas afinidades surja um interesse a mais. Desafiar esse frágil limite entre o amor fraterno e o puro romance é uma aventura prazerosa e divertida para muitos que descobriram que a amizade se pode tornar algo bem mais colorido.

Relacionamentos onde não existe compromisso são cada vez mais comuns. Para muita gente, eles têm a vantagem de preservar a liberdade, a individualidade e o próprio espaço. Nesse tipo de relação, o sexo surge quando os dois querem. Não é preciso conviver com o que não se gosta ou não se compreende no outro.
Quando não há compromisso, o casal só se encontra se ambos estão com vontade e o objectivo desses encontros é o mesmo: viver apenas bons momentos.
Embora, à primeira vista, possa parecer atraente, a relação sem compromisso tem aspectos negativos e, muitas vezes, acaba em frustração.
Quando o prazer do momento é a regra do relacionamento, a solidão pode incomodar bastante e um dos parceiros (ou ambos, cada um a seu modo) terá que se deparar com o vazio afectivo e a realidade de não ter alguém com quem compartilhar sentimentos, experiências e acontecimentos do dia a dia.
É comum pessoas envolvidas em casos sem compromisso se ressentirem da falta de romance e da impossibilidade de transformar o relacionamento num amor de verdade com direito a um quotidiano a dois.
É preciso coragem para se relacionar, se envolver e batalhar para alcançar um amor que valha a pena. Mas também, igualmente, é preciso muita coragem para fazer a escolha de uma relação sem compromisso, superficial ou mesmo profunda, mas sem laços. Quando a proposta é o sexo livre, amar pode ser um erro.
Assim como o relacionamento com uma pessoa é uma experiência única que não se compara com outra, o sexo com amor é muito diferente do sexo sem compromisso.

Vejam só:
Sexo com amor:
  1. O carinho e a preocupação dos parceiros com o prazer do outro é grande. Dar e receber passam a ser dois lados de uma mesma moeda.
  2. Nada provoca vergonha ou mal-estar. estão presentes os sentimentos de aceitação e de cumplicidade que fortalecem a experiência sexual.
  3. O "antes" e o "depois" são momentos de envolvimento e produzem a sensação confortante de proximidade e de aconchego.
  4. Os beijos são naturais, valorizados e fundamentais. Beijar a pessoa amada produz as mais profundas sensações.
  5. Traz paz de espírito, satisfação emocional e alegria.

Sem compromisso:

  1. Mesmo que nenhum dos dois seja egoísta na cama, fica claro que o erotismo é o mais importante e que ambos estão ali levados por uma motivação puramente física, sexual.
  2. As pessoas podem sentir-se ridículas ou desrespeitadas.
  3. Só o "durante" parece realmete importar. Não há demonstrações de afeto nem preocupações com o outro antes ou depois do sexo.
  4. O beijo não é valorizado, o que importa é o ato sexual .
  5. Pode provocar vazio emocional, aumentar a sensação de carência e entristecer. Corre-se o risco de sair da cama com um sentimento de depressão e de desvalorização.

Falando de amizade verdadeira, cuja preservação é muito importante, o tema é intrigante. Só por puro preconceito ou por medo um homem e uma mulher deixam de parecer atraentes um para o outro em função da amizade. Gostar de estar junto, de trocar idéias sobre as coisas relevantes e as sem importância, achar graça na forma do outro ser, falar, rir etc. Tudo isso, em princípio, deveria despertar o desejo de intimidade física. Será mais razoável termos intimidade física com uma pessoa amiga e confiável do que com alguém desconhecido. Na vida real, as coisas não acontecem assim por variadas e complexas razões. Somos mais apegados aos preconceitos do que pensamos. E amizade é algo que, por princípio, não inclui sexo. Ao pensar em intimidade física entre amigos, surgem dois medos. O óbvio é o de perdemos o amigo, por algum tipo de contratempo; e o outro, talvez o mais importante, é o de que a amizade, com a introdução do elemento erótico, se torne uma paixão fulminante.

O tema é fascinante e qual é a vossa opinião?

Desafiadas:

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http://mjoao-renascida.blogspot.com/

http://claras-em-castelo.blogspot.com/

http://eu-estou-aki.blogspot.com/


domingo, 11 de fevereiro de 2007

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

VAMOS LÁ SER SINCEROS...

  1. Alguém que você ama profundamente foi brutalmente assassinado e você sabe quem é o assasssino, que infelizmente foi absolvido do crime. Procuraria vingança?
  2. Uma pessoa que lhe é muito próxima está a sofrer, paralisada e irá morrer dentro de um mês. Implora-lhe que lhe dê veneno para que possa morrer. Dar-lhe-ia? E se fosse o seu pai?


quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

UM COPO DE TINTO DO DOURO

Leio no restaurante a carta de vinhos organizada por regiões para ver o que me apetece beber a acompanhar uma boa posta de carne e uma sobremesa de papos de amor de Lamego.
Há verdes, como o Alvarinho branco ou o vermelho de Vinhão, brancos e tintos do Dão e da Bairrada touriga nacional, da Estremadura, Colares e Bucelas, do Alentejo de cepa aragonês (lembro me como me soube bem o Esporão) e do Douro, muitos.

Aqui o pensamento fugiu-me para o Solar do vinho do Porto, com uma maravilhosa vista para Gaia, os seus armazéns de nomes conhecidos e os escassos rabelos que transportam néctar do preço do ouro: o vinho do Porto Quinta do Noval vintage 1931 (mais de mil contos a garrafa) foi considerado um dos doze melhores vinhos do século xx; mas há os Taylor, os Ramos Pinto, os Fonsecas, tantos outros.
Com um Fonseca 1994, cor violeta, aromas florais, sabor a uvas e amoras, viajamos pelo Douro e pelos seus outros vinhos, tintos, sempre tintos: Ferreirinha, Barca Velha, Redoma, Fojo, Gaiosa, Criseia, Vallado, Quinta do Cotto, Quinta da Pacheca, Quinta de la Rosa , Quinta do Castro, sem lá.
Escolho o Redoma para viajar dentro de mim pelo Douro: os especialistas dizem que há nele fogo e especiarias, paixão e pouco cérebro: bom para inebriar.
A paisagem do Douro espraia-se por vales, onde se encontram declives suaves e arredondados em contraste com fragas íngremes e agrestes.

Há o rio e aldeias que se misturam com casas mais ou menos solarengas encaixadas em socalcos repletas de cepas.
Há a Régua, onde em 1756 foi fundada a Real Companhia Geral do Alto Douro, com os vitrais da Casa do Douro.
Mesão Frio, Vila de Tabuaça, perto a Quinta do Bom Retiro ( o Ramos Pinto vem de lá).
Há as linhas negras e envelhecidas do comboio de brincadeira entre o Pocinho e Barca de Alva, onde se pode ver o êxtase das amendoeiras em flor. E a linha do Tua. E o abandono de grande parte delas.
Tudo a bordejar o rio, onde também se vêem olivais e laranjeiras, aves como o abutre do Egipto, o crujo ou a coruja das torres.
Há Ventozelo, perto do Santuário de S Salvador, ali junto a Vila Nova de Foz Côa.
E as pequenas ermidas espalhadas pela encosta do Monte da Frágua.
E o Vale de Meão, onde começou o Barca Velha, e a quinta do Vesúvio, da D Antónia, e o Vale Abraão (esse do Manuel de Oliveira), a quinta da Boavista do Barão de Forrester, a do Castro e os vestígios árabes e romanos.
O Douro é uma terra de vertigens, de gente que vive como se nada fosse, à porta de precipícios.
E que aprendeu a tirar da terra o bem supremo da vinha, o vinho, que transformou tudo em património da humanidade.
O copo de tinto Redoma leva-ma ao Pinhão, à sua estação de caminho de ferro e os seus azulejos com motivos vinícolas.
É aqui, centro geográfico da região demarcada do Douro, com a soberba vista da Casa Grande, que me vou instalar no lindíssimo e romântico hotel de charme, e sonhar com o meu amor.
E com ele viajar por recantos do Douro, que ficam para outra ocasião.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

VIVER SEMPRE TAMBÉM CANSA


Viver sempre também cansa
O sol é sempre o mesmo e o céu azul
Ora é azul, nitidamente azul,
Ora é cinzento, quase verde
Mas nunca tem a cor inesperada

O mundo não se modifica
As árvores dão flores
Folhas, frutos e pássaros
Como máquinas verdes

As paisagens também não se transformam,
Não cai neve vermelha
Não há flores vermelhas que voem
A lua não tem olhos
E ninguém vai pintar olhos à lua

Tudo é igual, mecânico e exacto

Ainda por cima os homens são os homens
Soluçam, bebem, riem e digerem.
E há bairros miseráveis sempre os mesmos,
Discursos de Mussolini
Guerras, orgulhos em transe,
Automóveis na corrida.

Pois não era mais humano
Morrer por bocadinho,
De vez em quando,
E recomeçar depois,
Achando tudo mais novo?

Ah! Se eu pudesse suicidar-me por seis meses,
Morrer em cima de um divã
Com a cabeça sobre uma almofada,
Confiante e sereno por saber
Que tu velavas, meu amor do Norte.

Quando viessem perguntar por mim,
Havias de dizer com teu sorriso
Onde arde um coração em melodia,
“ Matou-se esta manhã
Agora não o vou ressuscitar
Por uma bagatela”

E virias depois, suavemente,
Velar por mim, subtil e cuidadosa
Pé ante pé, não fosses acordar
A Morte ainda menina no meu colo.

José Gomes Ferreira


Ainda quanto à carta de amor: porque é que ninguém disse que amar é um acto de entrega total, dormir e desdormir nessa única tarefa? Já amaram mesmo a sério sem actos de vitimização egoísta?

Aquela poeta também escreveu…”dizer-te que nada de impuro se alojará na curva da minha vida onde tu passaste e que aquele que não soube honrar-te quando te possuía ainda consegue ver claramente através das suas lágrimas e honrar-te no seu coração, onde a tua imagem jamais morrerá".





terça-feira, 23 de janeiro de 2007

CARTA DE AMOR

Meu amor, eis-me aqui. Escreveste-me uma carta muito triste, meu pobre anjo, e eu também chego bem triste. Queres que nos voltemos a ver, e eu também o desejo, mas não receies da minha parte, criança, a mais pequena palavra, a mais pequena coisa que te possa fazer sofrer um instante sequer. Encontremo-nos, pois, querida alma, e achar-te-às inteiramente confiante e verás a que ponto te pertenço, de corpo e alma, verás que eu já não sinto nem dor nem desejo, confia em mim, Deus sabe que eu jamais te farei mal. Recebe-me, choremos ou riamos juntos, falemos do passado ou do futuro, da morte ou da vida, da esperança ou do sofrimento: eu já não sou nada a não ser aquilo que tu farás de mim.
Deixa–me viver da tua vida; o país para onde vais será a minha pátria, a tua família será a minha família; lá onde morreres, também eu morrerei, e serei sepultado na terra que te receber.
Deste modo, basta uma palavra tua, marca a tua hora. Será esta tarde? Amanhã? Quando quiseres, quando tiveres uma hora, um instante para perder. Responde-me uma linha. Se for esta tarde, tanto melhor, Se for daqui a um mês lá estarei.
Será quando não tiveres nada que fazer, a única coisa que eu tenho de fazer é amar- te.

Teu
Alfred Musset George Sand

sábado, 20 de janeiro de 2007

ALGUMAS QUESTÕES


Em termos do seu relativo desconforto, em que ordem posiciona os seguintes:
- um passeio nu em público;
- ser cuspido por uma multidão;
- ser preso por roubo numa loja;
- pedir dinheiro num aeroporto?

Qual é a coisa mais embaraçosa que consegue imaginar?

Porque é que se sente incomodado em fazer má figura em frente de estranhos?

terça-feira, 16 de janeiro de 2007

CONTINUAÇÃO

-Bom, achei a senhora interessante. O que se diz dela, isso tu sabes- tanto quanto pude observar de longe, ela devia ter tido um grande passado. Pareceu-me que ela tinha amado todo o tipo de homens e que os tinha conhecido a todos, mas que não tinha suportado nenhum por muito tempo. E é bonita.
- A que chamas bonita?
- Muito simples, não tem nada de supérfluo, nada em demasia. O corpo é bem feito, ela domina-o, atende à sua vontade. Nada nela é indisciplinado, nada falha, nada é indolente. Não sou capaz de me lembrar de nenhuma situação a que ela não tenha contraposto o máximo de beleza. Foi precisamente isso que me atraiu, porque o naif, para mim, é maçador. Procuro uma beleza consciente, formas educadas, cultura. Não, nada de teorias!
- De preferência não.
- Deixei-me portanto envolver e fui lá algumas vezes. Não tinha na altura ninguém, isso via-se facilmente. O marido é uma figura de porcelana. Comecei a aproximar-me. Uns quantos olhares por cima da mesa, uma palavra baixinho quando se brindava, um beijo na face demasiado longo. Ela aceitou, à espera do que viria a seguir. Aceitou encontrar-se.
- Quando estava sentado à frente dela, percebi logo que não havia lugar para métodos. Por isso disse-lhe simplesmente que estava apaixonado e que me punha À sua disposição. Seguiu–se então mais ou menos o seguinte diálogo:
“ Falemos de coisas mais interessantes”
“ Não há nada de mais interessar a não ser a Senhora. Vim para dizer isso. Se a aborrecer, vou me embora”
“ Mas então o que quer de mim?”
“ Minha querida senhora!”
“ Querida! Não o conheço e não o amo!”
“ Vai ver que não estou a brincar. Ofereço-lhe tudo o que sou e o que posso fazer, e poderei fazer muita coisa, se for por si “
“ Sim, é o que todos dizem. Nunca há nada de novo nas vossas declarações de amor. O que é que quer então fazer para me arrebatar? Se realmente me amasse, há muito que já teria feito alguma coisa.”
“ O quê, por exemplo?”
“ Isso deve o senhor saber. Podia ter jejuado durante oito dias, ou pelo menos ter escrito poemas.”
- “ Não sou poeta”
“ Porque não? Quem assim ama transforma-se em poeta, em herói por um sorriso, por um aceno, por uma palavra daquela que ama. Se os poemas não são bons, são no entanto ardorosos e cheios de amor.”
“ Tem razão, minha senhora. Não sou poeta, não sou herói, e também não me vou matar. Ou, se o fizer, será de mágoa pelo facto de o meu amor não ser tão forte e ardente como a senhora pode exigir. Mas em vez de tudo isso tenho uma vantagem em relação ao amante ideal: compreendo-a.”
“ O que é que compreende?”
“ Que a senhora tem saudades, tal como eu. Não deseja quem a ame, mas gostaria de amar total e disparatadamente. E não é capaz.”
“ Acha?”
“ Acho. Procura o amor tal como eu o procuro. Não é assim?”
“ Talvez”
“ Por isso também não pode precisar de mim e não vou incomodar mais. Mas talvez ainda me possa dizer, antes de me ir embora, se alguma vez, alguma vez mesmo, encontrou o verdadeiro amor”
“ Talvez uma vez. Já percorremos todo este caminho, pode ficar a saber. Foi há três anos. Tive a sensação de ser verdadeiramente amada.”
“ Posso fazer-lhe outra pergunta?”
“ Esteja à vontade. Apareceu um homem que me conheceu e me amou. E como eu era casada, não me disse nada. E quando viu que eu não amava o meu marido e tinha um favorito, veio ter comigo e propôs-me que desfizesse o casamento. Não era possível, e a partir de então esse homem preocupou-se comigo, observava-nos, avisou-me e tornou-se no meu maior apoio e amigo. E quando me afastei do favorito, por sua causa, e estava pronto a aceitá-lo, desprezou-me e foi se embora e nunca mais voltou. Ele amou-me, mais nenhum.”
“ Compreendo”
“ Ora então vá se embora, sim? Já talvez tenhamos dito coisas demais um ao outro”
“ Felicidades… melhor, eu não volto.”
O meu amigo calou-se, chamou o criado passado um bocado, pagou e foi- se embora. E desta conversa, entre outras, cheguei à conclusão que lhe faltava a capacidade para amar verdadeiramente. Ele próprio o tinha dito. E temos de acreditar nas pessoas quando falam das suas limitações. Há muita gente que se acha perfeita, apenas porque não tem muitas reivindicações. O meu amigo não faz isso e pode ser que precisamente o ideal que tem de um verdadeiro amor o tenha feito ser como é. Talvez o espertalhão simpatizasse comigo e possivelmente aquela conversa com a senhora Maria fosse uma simples invenção. Porque ele é secretamente um poeta, de tal maneira luta contra isso.
Simples suposições, talvez enganos….

Fim

Gostaram desta escrita ao século passado?
Comentários?
Vão aparecer mais textos sobre o amor, a amizade, os grandes e os pequenos afectos, as mágoas, o sofrimento, a felicidade.
E mais literatura de muita gente. Talvez a seguir venha Shakespeare, muito mais Hesse, o amor à mesa, a ternura com luz e as maluqueiras da cabeça de cada um.

UMA PEQUENA HISTÓRIA DE AMOR

O Tomás, meu amigo, é, sem dúvida, entre todas as pessoas que conheço, a que tem mais experiência no amor. Pelo menos esteve ligado a muitas mulheres, conhece as artes de fazer declarações de amor pela muita prática que teve e pode ufanar-se de muitas conquistas. Quando me fala delas, fico com a impressão de ser um menino de escola. Aliás, penso às vezes que ele não percebe mais do que eu da verdadeira essência do amor. Não acredito que na sua vida tenha passado muitas noites em claro por causa de uma paixão e que as tenha passado a chorar. De qualquer modo isso não lhe teria sido necessário muitas vezes e não tenho inveja dele, porque, apesar dos seus êxitos, não é um homem alegre. Além disso, vejo-o muitas vezes preso de uma leve melancolia, e todo o seu porte tem um toque de calma e abafada resignação, que não tem nada a ver com a saciedade.
Bom, isto é suposições e talvez enganos. Podem escrever livros e livros sobre psicologia, mas não é possível penetrar nas pessoas e eu também não sou psicólogo.
De qualquer modo pareceu-me que o meu amigo Tomás não passava de um virtuoso nos jogos de amor, porque lhe faltava qualquer coisa para aquele amor que não é jogo, e que era um melancólico porque reconhecia e lamentava essa falha em si próprio. Puras suposições, talvez enganos.
O que ele me contou há pouco tempo sobre a senhora Maria pareceu me estranho, embora não se tratasse propriamente de uma vivência nem sequer de uma aventura, mas apenas de um estado de espírito: uma anedota lírica.
Encontrei-me com Tomás quando ele ia mesmo a sair do habitual café e convenci-o a tomar comigo uma garrafa de vinho.
Ficou satisfeito e, em breve, com um bom vinho, estávamos a conversar. Com todo o cuidado levei a conversa para a senhora Maria. Uma linda senhora com pouco mais de trinta anos que vivia na cidade havia ainda pouco tempo e tinha fama de ter tido muitas paixões.
O marido era uma nulidade. Sabia há pouco tempo que o meu amigo se dava com ela.
_ Ah, a Maria – disse ele, acabando por seguir a conversa - , se ela te interessa assim tanto. O que é que queres que diga? Não tive nada com ela.
- Nada?
- Ora, seja o que for. Nada que eu possa de facto contar. Seria preciso ser poeta.
Ri – me.
- Tu até nem tens os poetas em grande estima.
- Porquê? Os poetas são na maior parte das vezes pessoas que não vivem nada. Posso dizer-te: aconteceram-me na vida já mil e umas coisas que poderiam ser escritas. Pensei muitas vezes por que razão não vive um poeta uma coisa destas para que não se perca. Vocês fazem sempre um barulho danado à volta do que é natural, toda a porcaria serve para um romance inteiro.
- E essa estória com a senhora Maria? Também é um romance?
- Não. Um esboço, um poema. Um estado de espírito, sabes.
- Pronto, sou todo ouvidos.

(continua )

segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

PEQUENOS DIÁLOGOS SOBRE A VIDA

O rosto do mundo mudou.

A maior revolução do século xx foi a revolução das mulheres.
É verdade, não riam: as revoluções mais importantes são aquelas que mudam as mentes das pessoas.

O feminismo está na base da mudança das formas de personalidade, questionou a heterosexualidade, o patriarcado, o seu poder, a sua auto estima, a violência que exercia (e ainda exerce). E como deus era representado homem o igualitarismo feminino entrou em confronto directo com as religiões tradicionais: basta também pensar nos novos tipos de família e suas consequências. Fiquem se só com esta para a maioria de nós chocante: os estudos mais sérios mostram maior estabilidade afectiva nas crianças educadas por homossexuais.

Porquê? Porque parece que para afirmarem a sua identidade são mais dedicados…

O feminismo colocou a questão: quem tem mais capacidade de arrastar: os que nos levam a uma sociedade mais igualitária, democrática e capaz de corrigir problemas ou os que tendem para uma sociedade individualista, que não cuida da conservação da natureza, competitiva, implacável e auto destrutiva?

E sublinhou a questão da identidade e multiculturalismo.

Por isso hoje, observa-se uma importância crescente da identidade na organização social, nos projectos individuais e colectivos.
Quando falamos de identidade falamos das formas de ser e aqueles valores que dão sentido à vida da gente, um sentido mais importante que outros objectivos, como o dinheiro ou o poder.

Não basta viver, é preciso razões para viver.

E aqui há diálogos sobre a vida importantes: aborto, fecundação assistida, adopção, doação de órgãos, células estaminais, eutanásia.
Doloroso falar sobre a complexidade, delicadeza, liberdade de consciência, auto determinação e dignidade no aborto?

Acordarmos sobre o que deve ser o progresso da ciência e da técnica na fecundação medicamente assistida e dialogar sobre os problemas morais que se levantam?

Pais biológicos ou adoptivos questão de amor? E entre seres humanos do mesmo sexo? E por um só?

Parte de nós noutros quando morrermos?

E os embriões congelados? Destruí-los?

E o uso de células estamina para curar doenças graves, como o Alzheimar ou Parkinson e outras, com o perigo do geneticamente puro e clones?

A ciência vai tão avançada!

E o fim da vida? O prolongamento da vida humana física é o princípio absoluto? E o sofrimento e a dignidade humana?

Querem falar sobre isto em que há tanto a dizer?

Ou preferem voltar a falar de como é bom o amor, os sonhos, a felicidade perdida, a amizade, a arte, a literatura, o cinema, a música.

Talvez haja espaço para tudo e não apenas ficções do interludio, cobrindo coloridamente o marasmo e a decidia da nossa intima descrença.

Não me batam!!!!

domingo, 7 de janeiro de 2007

UM OUTRO OLHAR SOBRE O MUNDO

“ Um homem pode, se tiver verdadeira sabedoria, gozar o espectáculo inteiro do mundo numa cadeira, sem saber ler, sem falar com alguém, só com o uso dos sentidos e a alma não saber ser triste”.
Quem disse? Sabem? Um doce...
Hoje o nosso planeta enfrenta uma grave crise ecológica e numerosos recursos naturais diminuem. A humanidade chega aos limites de uma exploração finita.
Em breve, lá para 2050, a presença de 10 mil milhões de seres humanos, que hão de querer comer, lavar-se, vestir-se e viver dignamente impõe que se reflicta sobre a partilha de recursos cada vez mais raros.
A situação actual não incita ao optimismo.
As zonas naturais degradam-se, a biodiversidade decresce, os recursos em água, em matérias primas, em energia desvanecem-se, a miséria não recua, as desigualdades sociais são gritantes, os conflitos étnicos, religiosos e económicos crescem, os egoísmos nacionais, sociais e pessoais multiplicam-se.
Nós somos, talvez, a primeira geração que possui os meios técnicos e o conhecimento do funcionamento global do planeta para proporcionar um desenvolvimento harmonioso, para transmitirmos às novas gerações um mundo onde se possa viver com novas regras politicas, económicas, sociais, onde os modos de produção, os hábitos de consumo e os métodos de governo sejam diferentes.
Há quem chame a isto pensar o desenvolvimento sustentável.
Pensam nisso?
Quem escreveu aquilo lá de cima também disse que sentir é uma maçada.
Mas não é verdade.
Poder saber pensar! Poder saber sentir! Isso sim!

quarta-feira, 3 de janeiro de 2007

UM OLHAR SOBRE O MUNDO

O amor torna-nos tolerantes perante o mundo.
Em época de balanço, se amamos, somos brandos nos juízos.
Alguém se lembra como viviam há 40 anos os nossos pais?
E o que se passou daí para cá aqui no nosso cantinho agradável?
Entrámos na União Europeia e que salto, não só material, como na mudança de mentalidades e aquisição de conhecimentos.
Há pobreza e descontentamento, o nível de expectativas aumentou e somos mais exigentes: pertencemos ao melhor do mundo.
A democracia para os mais novos é uma banalidade, deixámos de ser emigrantes, falamos a mesma língua que muitos milhões.
A informação, o conhecimento e as tecnologias andam a mudar a nossa visão das coisas.
Tivemos dificuldades, mas quem não as tem?
Claro que ainda não vencemos a fome e a doença no mundo, a guerra assumiu outras formas, não há à vista paz universal: basta ler as notícias, os conflitos, as democracias à beira de plutocracias.
Optimismo?
Talvez…Mas o filósofo, para dar força, dizia: pessimista por dentro, optimista por fora.
Será que tem razão?”