quinta-feira, 21 de maio de 2009

domingo, 17 de maio de 2009

segunda-feira, 28 de maio de 2007

O SILÊNCIO QUE MATA

Hoje recebi este mail. Li-o e reli-o e achei que o queria partilhar com o mundo. Aqui vai:


Na primeira noite, eles se aproximam
e colhem uma flor do nosso jardim.
E não dizemos nada

Na segunda noite, já não se escondem,
pisam as flores, matam o nosso cão.
E não dizemos nada.

Até que um dia, o mais frágil deles, entra
sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua,
e, conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.

E porque não dissemos nada,
já não podemos dizer nada.

- Maiakavski -

Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável.

Depois agarraram os desempregados
Mas como tenho emprego
Também não me importei

Agora estão me levando
Mas já é tarde,
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo
- Bertold Brencht (1898-1956) -

Incrível é que, após mais de cem anos, ainda nos encontramos tão desamparados, inertes, e submetidos aos caprichos da ruína moral dos poderes dos Governantes, que vampirizam o erário, aniquilam as instituições e deixam aos cidadãos os ossos ruídos e o direito ao silêncio: porque a palavra, há muito se tornou inútil...

- Até quando? ....

domingo, 20 de maio de 2007

TRÊS DIAS DE CEGUEIRA

«Muitas vezes, penso que seria uma benção se cada ser humano pudesse ser completamente cego e surdo durante alguns dias no início da sua vida adulta.» Esta é uma célebre citação retirada do famoso ensaio de Helen Keller «Três Dias Para Ver».

Na sua qualidade de invisual, Helen Keller achava incompreensível que amigos e familiares não apreciassem verdadeiramente as paisagens que os rodeavam. Certa vez, pediu a uma amiga que acabara de regressar de um passeio pelos bosques que lhe contasse o que vira. «nada de especial», replicou a amiga.

Esta resposta deixou Helen tão desapontada como atónita: como era possível caminhar durante uma hora pelos bosques e não ver nada digno de nota?

Recorrendo apenas ao tacto, Helen era capaz de sentir a extraordinária beleza das coisas: a delicada simetria de uma folha entre os seus dedos, o balanço suave de um galho ao sabor da brisa, o calor do sol nos misteriosos contornos da casca das árvores.

O seu coração devia agitar-se no desejo de ver todas essas coisas que apenas podia tentar imaginar; como saber verdadeiramente o que é uma árvore sem nunca ter visto árvore alguma?

«Se o mero tacto basta para me dar tanto prazer», especulava ela, «quanta beleza não será revelada pela vista?»

Por isso, ponderou o que mais gostaria de ver se lhe fosse dado o dom de ver durante três dias. No primeiro dia, convidaria os seus amigos mais queridos e olhá-los-ia prolongadamente no rosto, gravando a beleza deles na memória. No segundo dia, visitaria museus para adquirir um relance da história do Mundo ou iria a galerias, cinemas e teatros para mergulhar na alma da Humanidade através da arte. No terceiro dia, deambularia pela cidade para apreciar as vistas e a beleza da vida quotidiana.

A beleza irresistível da Natureza e da civilização humana era o que Helen Keller aspirava ver. Mas se tivesse tido, efectivamente, a oportunidade de ver tudo, talvez concordasse que no Mundo há certas coisas que mais vale não serem vistas. Podia muito bem ter sofrido uma desilusão ao constatar como certas coisas se tornam tão mais chocantes e violentas quando acompanhadas pela visão e pelo som.

Pensar em corpos mutilados nos campos de batalha, na destruição infligida por terroristas fanáticos, no rosto de uma criança cujos pais foram mortos por soldados implacáveis. A cegueira pode ser uma bênção num mundo inexorável e perverso.

Se eu fosse «abençoada» com três dias de cegueira e surdez, como Keller sugere na sua dissertação, aprenderia certamente a apreciar melhor a imagem e o som. A escuridão e o silêncio suscitariam em mim uma nova alegria por ver e ouvir e permitir-me-iam perceber quanto tenho substimado vista e ouvido na minha vida de todos os dias.

Mas antes que os três dias terminassem, a escuridão e o silêncio proporcionar-me-iam também algo mais.

No primeiro dia, teria o prazer de não ouvir nem ver as chicanas políticas ou os resultados do despotismo; seria poupada às manifestações de falta de diplomacia e à incrível miopia de algumas visões do Mundo.

No segundo dia, ficaria aliviada por não ter de ver as notícias deprimentes de assassínios, raptos e suícidios, batalhas e guerras, confrontos e manifestações que inundam a televisão. Seria um alívio não ter de ver os rostos desesperados dos reféns à espera de ser executados a sangue frio por terroristas encapuzados.

No terceiro dia, à medida que se aproximasse a última hora, teria de me preparar para voltar a enfrentar a dureza da realidade quotidiana.

Se a notável Helen Keller ainda estivesse entre nós, gostaria de lhe dizer que, para mim, «três dias de cegueira e surdez» não seriam assim tão maus. Pelo menos do prisma de alguém que é confrontado diariamente com um mundo muitas vezes sombrio e deprimente.

sábado, 12 de maio de 2007

DESAFIOS E DESAFIADOS

Fui desafiada, durante a semana, para responder a algumas questões.
Com algum atraso, aqui vai o resultado do meu enorme esforço para não vos deixar ficar mal.

O AGRIDOCE pediu-me para responder a um sem número de questões:

Se fosse uma hora do dia, seria... qualquer uma que não seja a meia noite (queria ser cinderela para sempre que isto de ser gata borralheira cansa muito!)
Se fosse um astro, seria... a ursa maior (a menor é muito pequena para mim!)
Se fosse uma direcção, seria... o Norte (nunca devemos perde-lo!)
Se fosse um móvel, seria... uma cadeira de baloiço(conhecem coisa melhor?)
Se fosse um líquido, seria... Champanhe(é agradável a maneira como nos deixa a cabeça a andar à roda
Se fosse um pecado, seria... Tudo o que é bom é pecado, nem sei o que escolher! Pode ser mais que um?
Se fosse uma pedra, seria... um cristal (que mais poderia ser?)
Se fosse uma árvore, seria... uma amendoeira (tem belas flores e frutos deliciosos)
Se fosse uma fruta, seria... uma amora silvestre (é doce qb mas também tem alguns espinhos)
Se fosse um clima, seria... tropical (quente e tempestuoso)
Se fosse um instrumento musical, seria... um piano (um instrumento que, não sendo muito belo, se bem tocado emite uns sons maravilhosos)
Se fosse um elemento, seria... o ar (ninguém pode viver sem ele)
Se fosse uma cor, seria... o azul (o mar e o céu também são)
Se fosse um animal, seria... um macaco (tem sempre um ar tão feliz e despreocupado)
Se fosse um som, seria... o do mar (é a música mais bela que o universo criou)
Se fosse uma música, seria... Against all odds do Phil Collins (inesquecível)
Se fosse estilo musical, seria... Salsa
Se fosse sentimento, seria... Amor
Se fosse um livro, seria... As palavras que nunca te direi (que bela história de amor)
Se fosse uma comida, seria... Galinha com grão (descobri há pouco tempo como é bom!)
Se fosse um lugar, seria... uma ilha (só entrava quem merecesse!)
Se fosse um gosto, seria... chocolate
Se fosse um cheiro, seria... alfazema
Se fosse uma palavra, seria... amor
Se fosse um verbo, seria... amar
Se fosse um objecto, seria... um comando de televisão (parece que é o objecto mais apreciado pelos homens)
Se fosse uma parte do corpo, seria... as mãos (podem fazer tanto por nós, até falarem!)
Se fosse expressão facial, seria... o sorriso
Se fosse uma personagem dos desenhos animados, seria... a super mulher
Se fosse filme, seria... Música no coração
Se fosse forma, seria... tudo menos esfera (mas é o que estou quase a ser!)
Se fosse número, seria... 17
Se fosse estação, seria... Primavera (quando tudo renasce)
Se fosse frase, seria... A cultura da ignorância é o que de mais pobre podemos alojar em nós!

Este já está, só falta nomear as próximas vitimas:

- Alexandre
- João Jr
- Nanny
- Diabólica
- Lua de Papel (para ver se acordas)



O outro desafio foi-me proposto, diabolicamente, pela DIABÓLICA e aqui ficam as minhas respostas:

7 coisas que tenho de fazer antes de morrer:

1 -Viver
2 -Transformar-me numa milionária excêntrica
3 -Comprar um chalé nos Alpes
4 -Aprender a esquiar
5 -Vender a minha celulite a alguém
6 -Gravar um disco (isto é castigo para os outros)
7 -Acabar os meus dias ao lado do meu amor

7 coisas que eu mais digo:


1 -Estás a ver
2 -Cruzes
3 -Fogo
4 -Ele há vidas piores só que não prestam
5 -Vai-te embora oh melga
6 -Bem!!
7 -Mas que chato

7 coisas que eu faço bem:

1 -Passar a ferro
2 -Ser boa amiga
3 -Trabalhar
4 -Ponto cruz
5 -Bacalhau à Gomes Sá
6 -Dormir
7 -Embrulhos

7 coisas que eu não faço:

1 -Maltratar os outros
2 -Ser mentirosa
3 -Comer favas
4 -Comer iscas
5 -Andar na montanha russa
6 -Correr
7 -Agredir alguém

7 coisas que me encantam:

1 -O mar
2 -O amor
3 -Viajar
4 -Estar rodeada de amigos
5 -Conviver com a família
6 -Uma boa gargalhada
7 -Comer um belo de um pastel de nata

7 coisas que eu odeio:

1 -Maldade
2 -Preguiça
3 -Maledicência
4 -Hipocrisia
5 -Cuspir para o chão
6 -Mau cheiro
7 -Política

E agora os 7 nomeados para se submeterem a este teste:

1 - Agridoce
2 -Sam
3 -Ci
4 -Entre Linhas
5 -Kalinka
6 -Mara
7 -Thunder

Ufa... cheguei ao fim!! Obrigada a todos e boa sorte para os desafiados.

domingo, 6 de maio de 2007

A ARTE DE VIVER


Quando estamos especialmente arrogantes, ou preocupados com questões superficiais, ou gastando imenso tempo com obsessões estéticas, mesquinhas, materiais, fúteis, ou pisando e passando por cima dos outros, ou imensamente soberbos e desprezando os mais fracos, ou ainda com uma ambição egoísta sem limites e sem escrúpulos...


Devemos lembrar-nos de que não somos eternos: somos mortais como todos os outros. Temos uma vida a aproveitar e ela pode oferecer-nos tantas coisas boas e bonitas que é lamentável perdermos tempo...

Foto tirada na praia da Lota

sábado, 14 de abril de 2007

A FELICIDADE, IMPOSSIVEL?


Uma amiga, com voz calma, dizia-me: “ Óscar Wilde, um optimista nato, referia que existem duas tragédias na existência: não satisfazer todos os desejos; satisfazer todos os desejos.

Alguns chegam a determinada fase da vida e apercebem-se que não conseguiram obter aquilo que pensaram que era necessário para ser feliz.

Outros obtiveram tudo o que projectaram ter para serem felizes e não o são.

Para ambos o mundo parece vazio e entediante, em crise existencial.

O que é que lhes poderá trazer a felicidade?

Muitas pessoas sentem que vivem numa sociedade de concorrência feroz e de sacralização das riquezas materiais e de profunda angústia, sem encontrarem um outro ideal que não esse egoísmo exacerbado.

Uns viram–se para a religião, outros para seitas, outros para drogas de toda a espécie, outras para um estilo de vida em sucessivas fugas para a frente vertiginosas, outros a estragar a vida de quem está por perto.

Há quem ache que a meditação filosófica é um recurso de muitos para suportar a vida e que a felicidade é uma coisa pessoal.

Cada um tem a sua felicidade, diferente da felicidade dos outros.

Uma felicidade igual para todos é um absurdo.”

A conversa continuou longa.

Como viver para ser feliz?

terça-feira, 3 de abril de 2007

A MAGIA DA MÚSICA

Musicoterapia: chamam -lhe alguns quando apontam as propriedades curativas da música.

Talvez tenham alguma razão.
A música é a única forma de arte sem intermediários: vai directa a cada um de nós, as notas voam sem suporte.
A música é pura emoção: Rimos, choramos, magoamo-nos, divertimo-nos, pensamos, relaxamos, repudiamos, amamos ou simplesmente escutamos.
Mas nunca somos os mesmos ouvindo musica ou com ela dentro de nós.
Até no silêncio há música.
E para todas as ocasiões.
Lembro-me de um célebre músico do século XIX ter dito que se pudesse ter composto no início dos tempos poderia ter forjado o temperamento dos povos e dos homens.
Aí está muita música popular para o comprovar.
E os Hinos?
A espiritualidade dos cantos gregorianos e a obra de Bach não parecem conduzir aos deuses?
Beethoven e algumas árias de ópera não são boas para uma catarse do dramático?
Wagner não é bom para batalhas?
E o Jazz e os blues para acompanhar um bom Martini?
E as nossas recordações nostálgicas do rock, do disco sound, dos seus sucedâneos?
E a chanson française, os festivais italianos, a musica do diversos mundos.
Eu acho que ninguém passa sem música, seja ela qual for.
Gostam de música?
Têm a mesma opinião?

sábado, 24 de março de 2007

REFLICTAMOS


Já que tanta gente dá mais importância a uma vida privada feliz, porque é que as pessoas acabam muitas vezes por aplicar mais energia na sua via profissional?

Se acha que a sua vida pessoal é mais importante para si, isso é evidente nas suas prioridades?

Não quer simplesmente admitir que o trabalho é mais importante?

Usa o trabalho como substituto?

Tem a esperança de que o sucesso profissional leve, de alguma forma, à felicidade pessoal?

sábado, 17 de março de 2007

LEITURA


Gostamos de ler.

Diversas coisas, conforme o gosto ou o momento.
Uns gostam de ler da primeira à última página, outros da última para a primeira, alguns ao acaso das páginas, outros sem as terminar porque não gostam.

De pé, sentados, na casa de banho, deitados, o que importa é ler, divertir, pensar.

Lendo podemos imaginar tudo como se não fossemos nada, porque, como diria já não sem quem, se fossemos alguma coisa não poderíamos imaginar.

Parece que nesta sociedade electrónica há quem diga que não há espaço para o livro.

Eu acho que não: senti-lo fisicamente, cheirá- lo, admirar a beleza do seu grafismo, poder com uma caneta ou lápis sublinhar ou riscar, tê-lo como companheiro é uma sensação insubstituível.

É um prazer inenarrável enroscar-mo-nos num cantinho e em silêncio absorvermo-nos totalmente.


Há um livro que recomendo: a História da Leitura, de Alberto Manguel: ficamos a saber como se foi lendo, e com que suportes ao longo do tempo.

Gosto de ficção que seja bem escrita e conte uma boa estória.

E gosto de livros que me ensinem ou de viagens que me transportem para lugares mágicos.

Alguém não gosta de ler?

Qual é a vossa opinião sobre livros e leitura?

domingo, 11 de março de 2007

PASSEIO MONOLOGADO

Que mágoa é essa!

Vem, dá-me a mão, senta-te aqui comigo neste banco no alto de Santa Catarina, junto ao Adamastor, avatar dos nossos pesadelos.

Olha, com a tua alma panorâmica, o Tejo em toda a sua largura.

Se viesses lá de longe, do mar, vias Lisboa erguer-se numa bela visão de sonho, sob o azul inédito e vivo do céu, que o sol anima e fecha no esquecimento a existência misteriosa dos astros.

São sete colinas, postos de observação, massas de casas irregulares e coloridas.

Materna, campo na cidade, gentes e bichos, Lisboa tem cheiro a maresia, eterna criança do destino.

Sorri sem olhos tristes, diz devagar coisa nenhuma, não deixes os anos morrer dentro de ti, os destinos vivem-se como outra vida.

Não penses nos dias, nas horas e minutos destes anos de vida que passaram, nem nas máscaras que são anónimas, nem nas fomes insatisfeitas.

Pensa em tudo o que deste, diz obrigada.

Não peças palavras, nem baladas, nem experiências.

Deixa o desespero ou o medo, renasce a toda a hora, deixa a vida exprimir-se sem disfarces.

Vê o mar e ouve o vento que murmuram a poesia das coisas a insinuarem-se no coração.

Olha o Tejo e o espaço de partida do mar.

Lisboa é o mundo para onde se vai e volta.

Anda daí sonhar e circum-navegar.

Mas voltando sempre por aquele mar e este rio, para esta Lisboa sempre nossa.

Sabendo que a vida é breve, o tempo foge, que é preciso escolher o que não morre, o que podemos saborear como se estivéssemos na eternidade.


Vá, não chores.

Ouve o poeta:

“Alma minha, brandinha, vagabunda,
Do corpo acompanhante e moradora
A que paragens vais subir agora,
Assim tão lívida, e rígida, e tão nua?
Deixarás de gozar o que hoje gozas.”

Vem, dá-me a mão, vamos embora e sorri…

domingo, 4 de março de 2007

PASSEIOS POR LISBOA E PENSAMENTOS

Já o disse várias vezes: gosto de passear, ter emoções estéticas que a beleza natural oferece, deambular pelas ruas, vadiar pelas praças, extasiar-me com as criações humanas, as obras de arte, olhar o rosto das pessoas, a forma como andam, as cores que vestem, as estórias que contam.

Há dias andei pela Lisboa das Índias.
Mas há tantas Lisboas! A Romana, a da rota das sedas, a das vilas operárias, a Setecentista, a moura, a boémia, a da sétima colina, a de Cesário Verde!

A colina do castelo, debruçada sobre o rio, foi a primeira zona de Lisboa a ser ocupada.


Agrega em si o tempo do poder, o dinamismo da guerra, sitiados e sitiadores, o centro religioso, o local de convivência de povos e crenças, de mercadores, burguesia e nobres, unidos no ensejo de fazer a cidade.

Nisso penso quando do Castelo olho a magnífica paisagem do rio Tejo ou olho para Alfama: o velho bairro de pescadores, que conserva uma grande parte do seu antigo aspecto: a arquitectura, o tipo de ruas, os arcos e as escadas, as varandas de madeira, uma vida cheia de rumor, ampliada nos santos populares.

A vista dá-nos serenidade e faz nos pensar como ao fim de tantos séculos ainda não conseguimos aprofundar a compreensão da condição humana, a conquista de uma maior libertação das prisões interiores e domínio do destino individual.

Como ainda não conseguimos ser seres livres ao encontro de outros seres livres e por eles reconhecidos como tal.

Atingir o que Espinosa disse: um homem conhece se pela sua acção, compreende se pela reflexão, constrói se pela meditação.

E é inconformado porque livre, prefere questionar a responder definitivamente, interpela o tempo em recomposição em que vive e as eternas questões da justiça, da paz, da liberdade, do desenvolvimento, da diversidade cultural, da solidariedade, da abolição de todas as formas de escravatura, da liberdade de pesquisa científica, do direito de viver e morrer com dignidade.

Buda, dito o iluminado, dizia: entre aquele que vence em combate mil vezes mil inimigos e aquele que se vence a si mesmo, é o segundo o maior dos vencedores.

Nestas colinas viveram os mais variados povos com as mais variadas religiões.

E recordo, neste mundo de intolerância, que para a ordem do mundo, mais vale a justiça sem religião do que a tirania do devoto.

Sob o fogo budista entendo o controlo, a paz, a compaixão.
Sob o fogo do judaísmo, entendo a esperança, a tensão para atingir o inatingível.
Sob o fogo do cristianismo entendo a liberdade, a fragilidade, o serviço do próximo.
Sob o fogo do Islão entendo a grandeza, o sentido da transcendência.
Sob o fogo da laicidade, o elogio da autonomia.
Sob o fogo do ateísmo, a tolerância.

E para continuar a viver, como dizia Teillard Chardin, panteísta, é preciso mudar.

Mas não é preciso deixar de gostar daquilo que do Castelo vejo, e de Lisboa, por onde vou continuar a andar. Talvez, como Pessoa, sempre Pessoa, acordar da cidade de Lisboa, mais tarde do que as outras.

domingo, 25 de fevereiro de 2007

UM PASSEIO PERTO DE NÓS: LISBOA DAS INDIAS.

“ Se o inverno chega, a primavera não pode estar distante”, dizia um poeta.
É com este pensamento que, da centenária Fábrica dos pastéis de Belém, olho o prédio revestido de azulejos da Fábrica de Massarelos, com uma grega em azul, amarelo e branco e escamas nas empenas a norte, estas bem coloridas, onde a ardósia deu lugar à cerâmica vidrada.

O pastel de nata de Belém é uma receita conventual feita à base de nata de leite, açucar e gemas de ovo. O segredo é guardado a sete chaves. Na casa do segredo prepara-se de véspera o creme, e aí fica a repousar até ao dia seguinte, com a porta fechada e a chave no bolso. Há muito que este segredo é partilhado apenas por quatro pessoas que nunca viajam juntas.

A Fábrica ocupa o terreno do antigo Palácio Guarda Mor dos Jerónimos. A fiada de edifícios que se segue foi construída no chão salgado dos antigos jardins do Palácio dos Duques de Aveiro. Aí esgue-se a coluna dos Távoras, evocando o episódio da incriminação desta família no atentado contra D. José e a luta entre o Marquês de Pombal e a nobreza tradicional. O chão foi então salgado para que aí mais nada crescesse.

O Mosteiro dos Gerónimos domina a praça..

Vou lá: uma visita aos Jerónimos tem necessáriamente de ser demorada, para ser uma verdadeira visita. Todas as belezas ali existentes devem ser cuidosamente examinadas: o trabalhado de todos os pormenores, as imagens, os túmulos, as colunas, as abóbodas, especialmente a do transepto, que nenhuma coluna sustenta, as pinturas, o coro, o claustro, um dos mais belos do mundo, a sala do capitulo, a capela de Cristo.

Ali perto temos a antiga Real Barraca, hoje Palácio da Ajuda. E o de Belém.Valem a visita.
Como à Igreja da Memória, ao Jardim Botânico, ao Museu dos Coches, atravessar a Praça do Império ( lá está Afonso de Albuquerque) e ir à Torre de Belém, sem dúvida um dos mais belos monumentos de Lisboa, arquitectura oriental erigida na praia do Restelo, famosa por ser o ponto de onde os navios partiam mar fora para as grandes descobertas.
Mas passeiam por Lisboa, pavorasamente perdidos, estrangeiros aqui como em toda a parte.

“ Outra vez te revejo
Lisboa e Tejo e tudo-,
transeunte inutil de ti e de mim
estrangeiro aqui como em toda a parte
casual na vida como na alma
fantasma a errar em salas de recordações
o ruído dos ratos e das tábuas que rangem
no castelo maldito de ter que viver”

(Fernando Pessoa)

Viver? Com que sentido? Com que respostas às eternas perguntas?
Passear e esquecer: Gosto de ver quem amo, de olhá-lo de frente, em vez de comtemplá-lo de viés ou de costas... Uma estátua é de frente que deve estar patente. E as traseiras do templo não são para os devotos.

Passeiem!