sábado, 24 de março de 2007

REFLICTAMOS


Já que tanta gente dá mais importância a uma vida privada feliz, porque é que as pessoas acabam muitas vezes por aplicar mais energia na sua via profissional?

Se acha que a sua vida pessoal é mais importante para si, isso é evidente nas suas prioridades?

Não quer simplesmente admitir que o trabalho é mais importante?

Usa o trabalho como substituto?

Tem a esperança de que o sucesso profissional leve, de alguma forma, à felicidade pessoal?

sábado, 17 de março de 2007

LEITURA


Gostamos de ler.

Diversas coisas, conforme o gosto ou o momento.
Uns gostam de ler da primeira à última página, outros da última para a primeira, alguns ao acaso das páginas, outros sem as terminar porque não gostam.

De pé, sentados, na casa de banho, deitados, o que importa é ler, divertir, pensar.

Lendo podemos imaginar tudo como se não fossemos nada, porque, como diria já não sem quem, se fossemos alguma coisa não poderíamos imaginar.

Parece que nesta sociedade electrónica há quem diga que não há espaço para o livro.

Eu acho que não: senti-lo fisicamente, cheirá- lo, admirar a beleza do seu grafismo, poder com uma caneta ou lápis sublinhar ou riscar, tê-lo como companheiro é uma sensação insubstituível.

É um prazer inenarrável enroscar-mo-nos num cantinho e em silêncio absorvermo-nos totalmente.


Há um livro que recomendo: a História da Leitura, de Alberto Manguel: ficamos a saber como se foi lendo, e com que suportes ao longo do tempo.

Gosto de ficção que seja bem escrita e conte uma boa estória.

E gosto de livros que me ensinem ou de viagens que me transportem para lugares mágicos.

Alguém não gosta de ler?

Qual é a vossa opinião sobre livros e leitura?

domingo, 11 de março de 2007

PASSEIO MONOLOGADO

Que mágoa é essa!

Vem, dá-me a mão, senta-te aqui comigo neste banco no alto de Santa Catarina, junto ao Adamastor, avatar dos nossos pesadelos.

Olha, com a tua alma panorâmica, o Tejo em toda a sua largura.

Se viesses lá de longe, do mar, vias Lisboa erguer-se numa bela visão de sonho, sob o azul inédito e vivo do céu, que o sol anima e fecha no esquecimento a existência misteriosa dos astros.

São sete colinas, postos de observação, massas de casas irregulares e coloridas.

Materna, campo na cidade, gentes e bichos, Lisboa tem cheiro a maresia, eterna criança do destino.

Sorri sem olhos tristes, diz devagar coisa nenhuma, não deixes os anos morrer dentro de ti, os destinos vivem-se como outra vida.

Não penses nos dias, nas horas e minutos destes anos de vida que passaram, nem nas máscaras que são anónimas, nem nas fomes insatisfeitas.

Pensa em tudo o que deste, diz obrigada.

Não peças palavras, nem baladas, nem experiências.

Deixa o desespero ou o medo, renasce a toda a hora, deixa a vida exprimir-se sem disfarces.

Vê o mar e ouve o vento que murmuram a poesia das coisas a insinuarem-se no coração.

Olha o Tejo e o espaço de partida do mar.

Lisboa é o mundo para onde se vai e volta.

Anda daí sonhar e circum-navegar.

Mas voltando sempre por aquele mar e este rio, para esta Lisboa sempre nossa.

Sabendo que a vida é breve, o tempo foge, que é preciso escolher o que não morre, o que podemos saborear como se estivéssemos na eternidade.


Vá, não chores.

Ouve o poeta:

“Alma minha, brandinha, vagabunda,
Do corpo acompanhante e moradora
A que paragens vais subir agora,
Assim tão lívida, e rígida, e tão nua?
Deixarás de gozar o que hoje gozas.”

Vem, dá-me a mão, vamos embora e sorri…

domingo, 4 de março de 2007

PASSEIOS POR LISBOA E PENSAMENTOS

Já o disse várias vezes: gosto de passear, ter emoções estéticas que a beleza natural oferece, deambular pelas ruas, vadiar pelas praças, extasiar-me com as criações humanas, as obras de arte, olhar o rosto das pessoas, a forma como andam, as cores que vestem, as estórias que contam.

Há dias andei pela Lisboa das Índias.
Mas há tantas Lisboas! A Romana, a da rota das sedas, a das vilas operárias, a Setecentista, a moura, a boémia, a da sétima colina, a de Cesário Verde!

A colina do castelo, debruçada sobre o rio, foi a primeira zona de Lisboa a ser ocupada.


Agrega em si o tempo do poder, o dinamismo da guerra, sitiados e sitiadores, o centro religioso, o local de convivência de povos e crenças, de mercadores, burguesia e nobres, unidos no ensejo de fazer a cidade.

Nisso penso quando do Castelo olho a magnífica paisagem do rio Tejo ou olho para Alfama: o velho bairro de pescadores, que conserva uma grande parte do seu antigo aspecto: a arquitectura, o tipo de ruas, os arcos e as escadas, as varandas de madeira, uma vida cheia de rumor, ampliada nos santos populares.

A vista dá-nos serenidade e faz nos pensar como ao fim de tantos séculos ainda não conseguimos aprofundar a compreensão da condição humana, a conquista de uma maior libertação das prisões interiores e domínio do destino individual.

Como ainda não conseguimos ser seres livres ao encontro de outros seres livres e por eles reconhecidos como tal.

Atingir o que Espinosa disse: um homem conhece se pela sua acção, compreende se pela reflexão, constrói se pela meditação.

E é inconformado porque livre, prefere questionar a responder definitivamente, interpela o tempo em recomposição em que vive e as eternas questões da justiça, da paz, da liberdade, do desenvolvimento, da diversidade cultural, da solidariedade, da abolição de todas as formas de escravatura, da liberdade de pesquisa científica, do direito de viver e morrer com dignidade.

Buda, dito o iluminado, dizia: entre aquele que vence em combate mil vezes mil inimigos e aquele que se vence a si mesmo, é o segundo o maior dos vencedores.

Nestas colinas viveram os mais variados povos com as mais variadas religiões.

E recordo, neste mundo de intolerância, que para a ordem do mundo, mais vale a justiça sem religião do que a tirania do devoto.

Sob o fogo budista entendo o controlo, a paz, a compaixão.
Sob o fogo do judaísmo, entendo a esperança, a tensão para atingir o inatingível.
Sob o fogo do cristianismo entendo a liberdade, a fragilidade, o serviço do próximo.
Sob o fogo do Islão entendo a grandeza, o sentido da transcendência.
Sob o fogo da laicidade, o elogio da autonomia.
Sob o fogo do ateísmo, a tolerância.

E para continuar a viver, como dizia Teillard Chardin, panteísta, é preciso mudar.

Mas não é preciso deixar de gostar daquilo que do Castelo vejo, e de Lisboa, por onde vou continuar a andar. Talvez, como Pessoa, sempre Pessoa, acordar da cidade de Lisboa, mais tarde do que as outras.