quarta-feira, 15 de novembro de 2006

PENSAMENTOS

Santana Lopes publicou um livro; foi o espectáculo de alguém que parece um gato de sete foles: matam-no não sei quantas vezes e as mesmas sobrevive. E consegue que lhe prestem atenção nacional, não tivera ele sido primeiro ministro. O livro não vale nada, não traz uma ideia, não acrescenta nada à nossa felicidade: é um rol de queixas de quem se acha vítima de uma cabala colectiva: a velha tendência de que sou um coitadinho e um incompreendido que poderia ter salvo a pátria.
Um aborrecimento!

Mas aborrecido por aborrecido prefiro Bernardo Soares ( Fernando Pessoa): ao menos consola.

Ora escutem "Num visível era: era como um começo a ver-se qualquer coisa, mas em toda a parte por igual, como se o revelar hesitasse em ser aparecido.
E que sentimento havia? A impossibilidade de o ter, o coração desfeito na cabeça, os sentimentos confundidos, um torpor de existência desperta, um apurar de qualquer coisa animica como o ouvido, para uma revelação definitiva, inútil, sempre a aparecer já, como a verdade,sempre,como a verdade, gémea de nunca aparecer.
Até a vontade de dormir, que lembra ao pensamento, desapertei, por parecer um esforço o mero bocejo de a ter. Até deixar de ver faz doer os olhos. E, na abdicação incolor da alma inteira, só os ruídos exteriores, longe, são o mundo impossível que ainda existe."

É conhecido que Picasso teve uma vida amorosa muito intensa e variada. É menos conhecido, que velho e doente, se tornou obssesivo no desenho a àgua forte com forte carga erótica. Dúvidas?
Vão a Cascais, à Fundação D.Luis, e digam depois.


Por mim, lembro com ingenuidade: " Estou convicto de que existem revelações". Santo Agostinho é aos meus olhos o homem mais verdadeiro que já existiu: " neguei e acredito", eis todo o mistério; a fé em qualquer coisa, uma finalidade-- um triangulo luminoso recortado na abóbada desse templo a que chamam mundo-- andar livremente no templo e ter a nosso lado um ser capaz de compreender por que razão uma ideia, um livro, uma palavra, uma flor, nos fazem parar e erguer a cabeça para o triangulo celeste."

1 comentário:

Anónimo disse...

Esta não posso concordar, quer por conhecer a pessoa, quer por ter a 1ªedição do livro por si autografado Li o livro todo e só quem não o leu, mas ouviu falar dele pode dizer que são lamúrias, coitadinho etc.
É por essas e outras em que comemos tudo o que nos põe no prato é que chegámos aqui. Hoje nós somos aquilo que a comunicação social diz que nós somos, embora, mais tarde se verifique que a final não é nada disso, mas o rótolo já lá está, o objectivo já foi conseguido.
Nunca mais aprendemos a não falar pela boca de outros que são iguais a nós e que eu não sei porque é que esses têm mais aceitação e são mais verdadeiros do que o que nós vemos ou conhecemos.
Por isso às vezes lemos temos aquilo que merecemos.